quarta-feira, 14 de outubro de 2015

ALTERAÇÕES TEXTUAIS NA BÍBLIA



RESUMO
Um assunto que permeia a mente de muitos cristãos, estudante e pesquisadores. As alterações nos textos bíblicos tem sido tema de debates ao longo dos tempos. No entanto, não foi sempre assim, durante muitos anos, a igreja católica considerada como a primeira igreja cristã, imperou como a única detentora e guardiã dos escritos sagrados e não admitia contestações, punindo severamente os que tentavam se sobressair nesse assunto. Embora, já desde os primórdios dos registros bíblicos, sempre houve, alterações através dos copistas nos escritos por diversos motivos. Nesse Paper, será comentado um pouco a respeito desse assunto de maneira sucinta, mas tentaremos abranger desde o início dos escritos bíblicos até exemplos de alterações corriqueiras nos dias atuais.
Palavras-chave: Alterações; Copista; Igreja.

1 INTRODUÇÃO
            O homem moderno está vivendo hoje, em um mundo de constante transformação social, mental e espiritual. Durante muitos anos a igreja, utilizando-se da bíblia como verdade absoluta, reinou e dominou com seus ensinos e dogmas, sem ser questionada por quem quer que seja. No entanto, os tempos mudaram, as pessoas evoluíram, as pesquisas avançaram e a igreja que antes era uma instituição inquestionável, passou a ser ameaçada até mesmo pelos seus próprios membros, tendo como maior exemplo desse tipo de questionamento, o movimento da reforma protestante que apesar de ter um fundo político, terminou com uma publicação de 95 teses por Martinho Lutero por volta do século XVI (GRUDEM, 2012).
            Hoje em dia, com o avanço da crítica textual, o alvo não é mais somente a igreja, mas a própria bíblia. Onde, além de se tentar determinar os textos originais, também supõe ver como o texto veio a ser modificado ao longo dos tempos, tanto por meio de enganos dos copistas, como por meio de modificações deliberadamente introduzidas por eles, muitas vezes até mesmo motivadas por disputas teológicas que eram muito comuns na época deles.
2 O INÍCIO DAS ESCRITURAS
            Para se tenta entender de onde surgem essas possibilidades de alteração nos textos da bíblia, é preciso entender de onde surge esse tipo de religião que tentar registrar tudo em livros, conhecida por religião do livro. Segundo os historiadores, isso começou como uma característica peculiar do cristianismo greco-romano, prefigurado pelo judaísmo, a primeira “religião do livro” da civilização ocidental.
            Tendo em vista a característica politeísta das religiões da época, onde não se exigiam conjuntos particulares de “retas doutrinas”, os livros não desempenhavam função de destaque em seu seio. Só o judaísmo insistia em leis, costumes e tradições ancestrais, e defendia que eles fossem registrados em livros sagrados, que gozavam, portanto, do status de escritura para o povo judeu.
            No entanto, apesar do cristianismo primitivo ser considerado uma religião do livro, isso não significa que qualquer um poderia escreve ou ler um livro. Ao contrário, a grande maioria deles, assim como a maior parte da população do império, incluindo os judeus, era analfabeta. Estudos sobre o letramento demonstram que aquilo que hoje conhecemos por letramento universal, é um fenômeno moderno que só surgiu com o advento da Revolução Industrial.
Ou seja, foi apenas quando as nações observaram que poderiam se beneficiar da habilidade de leitura para os negócios, que passaram a investir tempo e dinheiro para assegurar que todos recebessem alfabetização básica. Como conseqüência dessa atitude tardia, até o período moderno, quase todas as sociedades apresentavam apenas uma pequena parcela da população capaz de ler e escrever (HERMAM, 2015)  
3 A VULNERABILIDADE NA TRANSMISSÃO DOS TEXTOS BÍBLICOS
             No mundo antigo, a única maneira de copiar um livro era fazê-lo a mão, letra a letra, uma palavra por vez. Era um processo demorado, detalhista, e não havia alternativa. Diferente dos livros atuais em que é possível fazer milhares de cópias sem o texto sofrer qualquer tipo de variação, no mundo antigo não era assim. Em vista que o livro tinha que ser copiados a mão e um por vez, era impossível produzir livros em massa. Os poucos livros eram produzidos em cópias múltiplas, que diferiam entre si, porque os copistas inevitavelmente faziam alterações neles.
            E a vulnerabilidade dos textos bíblicos estava exatamente aí, na forma de se copiar um manuscrito original. Dado que os livros não eram produzidos em massa e que não havia editoras ou livrarias, as coisas eram bem distintas. Geralmente, um autor escrevia um livro e, possivelmente, teria um grupo de amigos para lê-lo ou ouvi-lo lido em voz alta, para sofrer as primeiras críticas e conseqüentemente sofrer as primeiras alterações. Depois de concluído o autor mandava fazer algumas cópias e distribuía a uns poucos amigos.
            O problema, é que se esses amigos quisessem presentear outros amigos ou membros da família com uma cópia desse mesmo livro, mandaria por conta própria reproduzir por meio de um copista profissional ou até mesmo de um escravo letrado que poderia fazer isso como parte de seus afazeres domésticos. Acontece que nesse processo, a escrita não estava mais sob domínio do autor, portanto, o texto poderia ser modificado até mesmo por interesse pessoal de quem estava mandando copiar, por erros involuntários ou voluntários dos próprios copistas.
4 OS ESCRITOS BASEADOS NOS ORIGINAIS DA BÍBLIA
             Na verdade, já não existem mais os manuscritos autógrafos, ou seja, aqueles que contêm a forma textual que saiu das mãos dos escritores dos livros bíblicos, e os mais antigos documentos que trazem o texto da Bíblia são cópias de uma infinidade de outras cópias, produzidas séculos depois de os autores terem escrito os livros.  Como a Bíblia nas línguas em que foi originalmente escrita, para ser difundida, dependeu essencialmente de cópias que dela foram feitas ao longo de tanto tempo, os copistas acabaram introduzindo alterações no texto, algo que foi inevitável de acontecer (RAUPP, 2010).
            As passagens bíblicas divergentes são chamadas de variantes textuais ou leituras variantes, e há centenas delas. Um dos grandes problemas era que muitos dos copistas não eram habilitados, treinados profissionalmente para fazer tal serviço. Nesse tempo, os textos antigos não usavam marcas de pontuação, não se fazia distinção entre minúsculas e maiúsculas e, não havia espaço de separação entre as palavras, e isso, é claro, causava muitos transtornos.
            Tem o caso da carta de Paulo os Gálatas, que tudo indica, não foi ele que escreveu, como muitas outras cartas também, mas foi ditada a um amanuense e assinada por ele, inclusive com letras grandes conforme (Gálatas 6:1). No entanto, o que sobrevive hoje não é a cópia original da carta, nem uma das primeiras cópias que o próprio Paulo fez, nem ainda alguma das cópias produzidas em alguma das cidades da Galácia à qual a carta foi enviada, nem mesmo uma cópia dessas cópias.   
5 MUDANÇAS NOS TEXTOS BÍBLICOS
A existência de erros nas escrituras bíblicas já é um assunto muito comum entres os pesquisadores e estudantes de teologia. Muitas vezes os copistas simplesmente se distraíam, tinham sono, fome, entre outras coisas, mas seria um equívoco concluir que as únicas mudanças feitas eram provocadas por copistas com interesses pessoais, resultado de escorregões da pena, omissão acidental, acréscimo despercebidos, palavras mal grafadas.
Não obstante, eles mudavam os textos por questões teológicas, ideológicas ou simplesmente porque achavam que ele tinha de ser mudado por concluírem que o texto continha um erro e precisava ser corrigido. Como por exemplo: uma provável contradição, uma referência geográfica errada ou uma menção escriturística deslocada (EHRMAN, 2015).
Um dos exemplos de alteração textual em favor de posicionamentos dogmáticos é o caso da tradição histórico-religiosa milenar judaica, que tenta eliminar de seus escritos a figura de Jesus Cristo. Entre muitas passagens, tomemos como exemplo a passagem de Lucas 4:16-20 que descreve: “...O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres [...] tendo fechado o rolo, devolveu-o ao assistente e sentou-se ...”(ALMEIDA, 1990.)
O que os pesquisadores observam, é que está claramente descrito nos evangelhos que Jesus Cristo leu esta passagem diante de todos no templo, no entanto, não há menção deste trecho do profeta Isaías lido por Jesus na lista oficial de leituras da Haftará do judaísmo recente. Logo, vem a pergunta: O que aconteceu então, com a Haftará que Jesus leu na sinagoga de Nazaré? (MIGUEL, 2015)
Outra situação de alteração muito comum e corriqueira nos dias atuais são as traduções bíblicas, que de acordo com a corrente teológica do tradutor, o mesmo pode modificar as palavras do texto, traduzindo para um equivalente mais aceitável por sua denominação, mesmo que isso venha comprometer a corrente religiosa de outros (SOBRINHO, 2010).


4 CONCLUSÃO
            Esses pequenos comentários sobre esse tema muito abrangente e em evidência cada vez mais, não chegam nem a arranhar os milhares de modificações que foram feitas por copistas profissionais e amadores ao longo da história, tanto no Antigo Testamento como no Novo. Embora, muitas dessas modificações não tenham muito impacto nas interpretações como um todo, a grande maioria pode sim ter influenciado todo um contexto religioso com a manipulação da igreja sobre os seus fies ao longo dos séculos.
            Por outro lado, não se pode culpar os copistas por tantas modificações, porque qualquer ser humano no processo de leitura faz as suas próprias adaptações de termos para dar  sentido ao texto para ele ou para quem ele deseja passar essas informações. A diferença é que as modificações orais não ficam registradas e podem novamente ser mudadas a qualquer momento, enquanto que as escritas ficam registradas fisicamente e ao passarem pelo mesmo processo de mudanças de termos por outro leitor, obrigatoriamente sofrer novas modificações inevitavelmente. Ou seja, a diferença daquele tempo para os dias atuais, é que os copistas mudaram as escrituras de um modo que nós não fazemos.


5 REFERÊNCIAS
ALMEIDA, J. F. Bíblia Sagrada: o antigo e novo testamento. São Paulo: Simplificada, 1990.
GRUDEM, Wayne A. Teologia Sistemática. 2 ed. São Paulo: Vida Nova, 2012.
EHRMAN, Bart D. O que Jesus disse? O que Jesus não disse?. 2 ed. Rio de Janeiro: Agir, 2015.
MIGUEL, Igor. Alterações textuais que impedem a percepção de Yeshua como o Messias:  Disponível em: < http://www.welingtoncorp.xpg.com.br/biblia_hebraica_portugues.pdf >. Acessado em 03 de Jun de 2015.
RAUPP, Marcelo. Uma Análise Descritiva De Três Traduções Brasileiras Da Bíblia A Partir e Alterações Introduzidas Nos Manuscritos Em Língua Original:  Disponível em: <https://repositorio.ufsc.br/xmlui/bitstream/handle/123456789/94236/276638.pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acessado em 05 de Jun de 2015.
SOBRINHO, Paulo S.N. Os textos originais da Bíblia?:  Disponível em: < http://www.apologiaespirita.org/apologia/artigos/025_Os_textos_originais_da_Biblia.pdf>. Acessado em 07 de Jun de 2015.

Por: Joelsam

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