terça-feira, 21 de novembro de 2023

REINO, MUNDO E IGREJA

 BARROS, Joel S1


REINO

O Reino de Deus é a finalidade última de toda criação, onde esse reino é revelado em Jesus Cristo e através de Cristo, em que é inaugurado por ele com a sua morte e ressurreição, mas que será consumado com a sua volta. Já temos os sinais do Reino de Deus na terra, mas não em sua plenitude, cuja expressão está descrita em Mt 6.9-19:.. “Pai nosso, que estás nos céus! Santificado seja o teu nome. Venha a nós o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu”... O reino de Deus na terra é o ambiente onde a vontade de Deus é feita. Onde quer que a vontade de Deus é feita, aí o reino de Deus está sinalizado: Crianças maltratadas e passando fome, não tem reino de Deus nisso; violência doméstica, não tem reino de Deus aí; milhares de pessoas no mundo desempregadas passando fome, isso não representa o reino de Deus; meio ambiente sendo destruído, também não está sendo sinalizado o reino de Deus aí.

Ao contrário disso, onde quer que a vontade de Deus esteja sendo observada, levada em consideração para melhores ações e atitudes, o reino de Deus está manifestado. Por isso a melhor definição seria o reinado de Deus, e não o reino de Deus, porque em qualquer situação em que a vontade de Deus está sendo realizada ou observada, Deus estará reinando.

        MUNDO

Já o mundo, na definição bíblica representa 3 situações: 

1-Mundo como um lugar geográfico, planeta terra, estrutura física: Do senhor é a terra e a sua                   plenitude… O mundo e aqueles que nele habitam.

2-Mundo como sistema, estrutura social, econômica e política: é a maneira como as sociedades                 estão organizadas. Quando a bíblia diz “não ameis o mundo”, é desse sistema anti reino de Deus             que ela está falando. Dessas estruturas organizacionais onde a vontade de Deus não é feita ou não             é a finalidade.

3-Mundo como humanidade, pessoa, seres humanos: Quando a bíblia fala “Deus amou o                         mundo”, não está falando de amar o sistema anti reino, ou o mundo como estrutura física, mas                 de pessoas.

Quando Paulo fala de “não vos conformeis com este mundo”, não tomem a forma deste mundo, não se deixem moldar por este mundo, ele está falando do mundo sistema.


            IGREJA

A Igreja é a parte do mundo humanidade, de pessoas que acolheram a convocação de Jesus para implantar o reino de Deus na terra, e que se coloca no mundo lugar em oposição a todo o mundo sistema anti reino de Deus. Acontece que essa igreja, ao longo dos tempos foi perdendo a sua identidade e passou a pregar um evangelho desfocado da sua verdadeira missão na terra. Ou seja, ela sempre pregou que as pessoas precisavam somente aceitar a Jesus para ir para o céu, e não ir para o inferno quando morresse. Mas ela não tinha uma resposta satisfatória para o que deveríamos fazer nesse intervalo da nossa vida entre o nascer e o morrer, como nos posicionarmos no mundo,  porque para ela  tudo que existe no mundo é do diabo, como:  arte, teatro, faculdade, lazer, formação profissional, construir patrimônio, entre outras milhares de coisas, onde o eu   de Deus é somente a igreja.

Do ponto de vista desse modelo de igreja, o trabalho sempre foi um mal necessário, portanto, suas orientações ficaram limitadas ao cristão ter que trabalhar no mundo do diabo em busca do seu sustento e mantimento do templo, e o resto do tempo deveria se ocupar das coisas de Deus, que para essas lideranças, são as coisas da igreja, da religião. No máximo, o que um cristão deveria fazer no mundo além de trabalhar, era convencer as pessoas a abandonarem o mundo e virem para a igreja fazer as coisas de Deus. No entanto, o projeto de Jesus e sua finalidade de vir a este mundo, não foi implantar uma igreja, mas inaugurar o reino de Deus na terra. Ele não veio anunciar a igreja, mas anunciar o reino de Deus: arrependam-se e creiam, que o reino de Deus chegou (Mt 3.2, 4.17), é chegado o reino dos céus (Mt 10.7), o reino de Deus chegou até vós (Lc 10.9), o reino de Deus está no meio de vós (Lc 17.21).

É por isso que Jesus pede que as pessoas lhe sigam, e que venham se colocar sob o reinado de Deus, para promover libertação dos cativos, em todos os sentidos (física, emocional, psíquica, espiritual, social, política, econômica, mental), desde libertar os oprimidos a dar vista aos cegos, fazendo-os enxergar o verdadeiro caminho do evangelho (Lc 4.18). Porque existe o mundo sistema anti reino que age em função do maligno (o mundo jaz o maligno 1Jo 5.19), que está montado para manter o ser humano cativo aquém da plenitude da sua humanidade. E Jesus veio para destruir este sistema no fim de todas as coisas, mas que por enquanto, nos convida a se juntar a ele nessa ação de resgatar as pessoas que queiram sair deste mundo opressor que será destruído em breve (uma espécie de faixa de gaza). 

Não devemos esquecer que quando Deus nos criou, ele não disse: crescei, multiplicai, povoem a terra e construam templos e igrejas por onde quer que vocês forem. Ele disse: sede fecundos, crescei, multiplicai, dominai sobre tudo e “cuidai da terra”. Resumindo, Ele nos criou e nos responsabilizou pela sua criação. O que nós chamamos de igreja, com templo, com liturgia, com clero, com doutrina, com dia de encontros para celebrar e adorar a Deus, já é uma distorção do que Jesus pensava ser a igreja. Porque para ele, a igreja é composta por todas as pessoas que se comprometem com o reino de Deus e que por questão organizacional humana se agrupam em comunidades.

Sendo que as pessoas que se comprometem com o reino de Deus, automaticamente, se descompatibilizam com tudo que é anti reino de Deus no mundo, ou no mínimo criam estranhamento com o que não condiz com o reino de Deus. Dentro desse contexto, quando Jesus pensou em igreja, ele não pensou somente em uma evasão de pessoas do mundo para o seu reino, mas de uma situação de confronto e conflito, é por isso que ele fala em Mt 10.34-39 “não penseis que vim trazer paz à terra, mas a espada. Pois vim causar divisão entre o homem e seu pai; entre a filha e sua mãe e entre a nora e sua sogra” e assim por diante. Um conflito entre a luz e as trevas, entre reino e anti reino, ele não imaginava um povo como igreja confinado em um lugar, mas livre no mundo, daí a sua oração “eu não peço que os tire do mundo, mas que os livre do mal…Mt 17.15-23”.

É por isso que não é correto a máxima da igreja, que diz: Deus, igreja e povo, mas sim, Deus, povo e igreja, porque só faz sentido ter uma igreja, se ela se legitimar estando a serviço de um povo, que está a serviço do reino de Deus. Fazendo uma análise mais profunda sobre os países em que as igrejas cristãs estão desaparecendo, não quer dizer que eles estão rechaçando o cristianismo, porque esse, homem nenhum conseguirá destruir, mas estão rechaçando a religião cristã institucional. Porque tendo em vista tantas mazelas em nome de Deus geradas pelas instituições religiosas mundo afora, faz com que um dos maiores inimigos do reino de Deus no mundo de hoje seja o cristianismo institucionalizado. 

É como se precisássemos “libertar Jesus” do aprisionamento  que o cristianismo institucionalizado impôs sobre ele, confinando-o a um templo, a uma categoria de pessoas, a uma estrutura hierárquica, a uma lógica moral, a um tipo de ritual, e que enquanto isso, a floresta está sendo desmatada, o meio ambiente está sendo destruído, crianças no mundo inteiro passando fome, a violência social só aumentando, as guerras se multiplicando, e os religiosos cristãos fazendo templos e igrejas, convidando as pessoas para se tornarem cristãs.

 É por isso que muitas pessoas não querem ser cristãs, porque pensam que ser cristão é ocupar o seu tempo de um domingo de sol pela manhã dentro de uma igreja. E a culpa por esse pensamento é da própria igreja, que em dois mil anos de cristianismo deixou que as pessoas entendessem que ser cristão é frequentar um templo, deixando o mundo entregue ao anti reino de Deus e suas concupiscências. Enquanto que ser um verdadeiro cristão e seguir a Jesus é se colocar em seus passos de compromissos com o reinado de Deus, ou seja, nos comprometermos a viver na mundo, promovendo a vontade de Deus, para que ela seja feita, assim na terra como no céu.


Referência:

Kivitz, E.R. Teólogo, Escritor e Pastor da IBAB - Igreja Batista de Água Branca. 2023.