sexta-feira, 22 de maio de 2020

A ORDEM DE ABRAÃO E A ORDEM DE MELQUISEDEQUE

Durante muito tempo, vimos Deus agir de diversas maneiras, e de formas extraordinárias, como através de mula falante, de mato queimando, voz do além, anjos, sonhos visões, pelos cantos dos pássaros, pela força da natureza, com possibilidade de falar até por meio de pedras, etc...ah! e também fala através de homens. E como isso é possível? ele não se revelou aos homens? como ele pode agir e se manifestar muitas vezes de forma incompreensível para nós?

Pois é, para responder quanto a parte revelada de Deus, ou seja,  para os seres humanos que possuem uma fé “ firmada no fundamento das coisas que se esperam [...]” Hb 11:1a, onde já existe a certeza de que algo vai acontecer pelo o histórico das ações de Deus através do tempo e do espaço em nosso ambiente terreno, existe a ordem religiosa da fé de Abraão, que nada mais é do que a ordem histórica registrada na bíblia para guiar o homem carnal através dos tempos, Hb 11:2-31, e a bíblia, passa a ser para este homem não um manual de tudo, mas uma cartilha para quem deseja aprender a ler e a escrever no mundo espiritual de Deus.

A religião na ordem de Abraão, conforme Hb 7:5 e Hb 11:8-31, é a fé comprovável, com introdução, princípio, meio e fim, onde tudo é verificável por meio da sequência histórica no tempo e no espaço. Abraão é um homem que tem pai, mãe, esposa, filhos, sobrinhos, netos, raça, cultura, tem uma genealogia. Isso tudo, cria uma uma linearidade, e é o que dá base para todos os estudos bíblicos que se ensina e que se aprende nas congregações. Em Abraão a revelação ganha nomes de pessoas, é a fé que se vê, tem história, sequência, bíblia, Israel, tudo que se conhece de religião hoje, foi a fé que a descendência de Abraão produziu.

Uma fé que se discerniu, que se transformou em história, que se transformou em cultura. Por isso, todas as vezes que se tem uma fé que se vê, se transformará em religião, porque o caminho de Abraão é o caminho de religião, foi a partir dele que surgiu a religião monoteísta, depois se transformou na fé de Israel, depois em judaísmo, e depois  em Cristianismo, até a religião do Islamismo descende de Abraão. Este caminho dá segurança, tem fronteira, tem chão, tem teologia, tem doutrina, tem certezas, conseguimos  visitar um povo, uma igreja, uma comunidade, essa fé sempre tem contornos comunitários como todos conhecemos e que chamamos de templos, “igrejas”, congregações.

Mas existe outra fé, Hb 11:1 b, a fé “[...]na prova das coisas que não se vêem”. Esta fé não descende da ordem de Abraão, mas da ordem de Melquisedeque. Sem princípio de dias, não tinha pai, mãe, não se fala de seu avô e nem se faz referência a sua esposa e filhos, sem genealogia, sem introdução, a quem Abraão somente reconheceu como da parte de Deus. Em Abraão a fé é narrável, em Melquisedeque a fé é inenarrável. É o que sustenta o agir extraordinário de Deus, é a fé do absurdo, do inexplicável, do incrível, do inacreditável, é a fé que não permite que o agir de Deus fique confinado aos dogmas da religião, por isso, ele pode falar e agir no meio de nós por meio de quem ele quer, quando, como e onde ele quiser, porque os caminhos de Deus não são os de Abraão e nem os nossos.

Por isso Jesus não faz parte da descendência de Levi, da ordem de Abraão, mas da ordem de Melquisedeque. Porque em Abraão, a ordem de Levi eram feitos por seres mortais que eram indicados de tempo em tempo e que prestavam sacrifícios. Na ordem de Melquisedeque se vive para sempre, não há registro de seu nascimento, nem registro de sua morte. É alguém que aparece desconectado de relações históricas, mas é exatamente por isso que poder vencer o tempo e ser  estabelecido como semelhante ao filho de Deus que dura para sempre. São nessas duas figuras que se encontraram e que foi citado poucas vezes na bíblia, que podemos ver os dois caminhos de Deus para toda a história da humanidade.

No entanto, assim como Abraão carrega uma revelação verificável, o livro, a bíblia, a historicidade da revelação de Deus, Melquisedeque é o caminho da revelação eterna de Deus, por isso não tem começo e nem fim, não tem nome de ninguém, está sujeito apenas o desígnio e soberania de Deus. É o susto de Deus para a história, é a sua face surpreendente, é a chegada sem pedir licença, é a manifestação do imprevisível, uma manifestação superior, é definitivamente a liberdade que Deus tem na terra de ser Deus. Porque se não fosse assim, e se Deus tivesse preso a necessidade de se relevar somente pela descendência de Abraão, ele estaria confinado na  história.

Ele estaria completamente limitado aos instrumentos de natureza cultural, histórica, social, religiosa, que a descendência de Abraão pode oferecer a ele. E este era o grande conflito dos sacerdotes descendentes da tribo de Levi, que não entendiam essa supremacia de Deus vinda pela ordem de Melquisedeque e queriam ser os domesticadores da revelação de Deus. Eles achavam que Deus só se manifestava através deles, dos seus sacrifícios, das suas liturgias e das suas leis. No entanto, os profetas pela ordem de Melquisedeque, corriam paralelamente, como um ponto fora da curva, insubmisso ao legalismo sacerdotal, e diziam NÃO! a esta tentativa de controle da fé, porque  Deus é Deus, que  pode se manifestar através de vocês, apesar de você e até contra vocês.

A fé na ordem de Melquisedeque, é um caminho paralelo, sem templos, sem púlpitos, sem mesa, sem diáconos, sem líderes e sem rabinos. Onde não se consegue apalpar nada, temos que nos satisfazer com o invisível, o abstrato, com o mistério, com o surpreendente. Somente por este caminho que podemos ver a liberdade de Deus para alimentar a fé no coração de pessoas que estão até mesmo fora da religião, que não fazem parte de comunidade, mas nutrem no coração a fé para com o Deus altíssimo, porque foram alcançados não por um pastor, um missionário, um padre, mas quem sabe Deus se manifestou a ele por meio de um sonho ou de uma visão, como no caso de Maria e José. Neste caminho, não tem quatro paredes, mas tem  anjos e liberdade divina de falar e agir.

O caminho de Abraão é o caminho do homem, o caminho de Melquisedeque não é o caminho do Homem, é o caminho de Deus. Por isso, nós, seres humanos, só conseguimos andar no caminho de Abraão, guiados por preceitos e dogmas, só Deus anda pelo caminho de Melquisedeque, no máximo que conseguimos ver desse caminho, e apenas de vez em quando, são os rastros por onde ele passou e fez milagres. Então, não se preocupe com os índios, com civilizaçõe perdidas, com pessoas que parecem inatingíveis, porque se dependesse só da descendência de Abraão, não só esses, mas o mundo inteiro estaria perdido.

Agora, por que  temos que saber desses dois caminhos? porque se sabemos do Caminho de Abraão e estamos nele, nós caminhamos com o povo de Deus fazendo sempre o nosso melhor dentro de nossas possibilidades no tempo e no espaço em todas oportunidades que tivermos. E se sabemos do caminho de Melquisedeque e de quem anda por ele, nós devemos nos colocar em nosso lugar e não andar arrogantemente no meio do povo de Deus achando que sem mim Deus está perdido. Devemos sempre esperar uma surpresa de Deus, e saber que quando ele fala ide, ele manda ir e pregar o evangelho, mas ao mesmo tempo está falando, não façam o juízo final por mim, porque sou eu que tenho a última palavra.

Portanto, devemos andar no caminho de Abraão sempre com o coração quebrantado, sabendo que existe uma ordem superior, a qual Jesus pertence e que está fora de nosso domínio. Agradecido pelo fato de ele ter se revelado a nós, mas com o coração humilde porque não sabemos a quem mais ele se revelou. Porque ele não precisa dos canais históricos para se revelar a quem quer que seja,  ele age na nossa vida que o chamamos pelo seu nome. mas ele tem a liberdade de chamar pelo nome, aqueles que não sabem o nome dele. Só ele pode ser salvador dos que sabem e dos que não sabem de seus caminhos, só ele pode ter ido onde você achava que não tinha ninguém, só ele pode chegar onde você não chegou, só ele pode ter chegado a alguém que você nunca teve peito e nem coragem de enfrentar, mas ele foi lá. Por isso, hoje ele fala a você! faça só a sua parte, mas não queira ser Deus por mim, porque  eu vou continuar a ser Deus, onde quer que eu queira ser. (FILHO, 1998)

Por Joel S. Barros

Referência:  

FILHO, Caio F. D’Araújo. O Jesus histórico e o Jesus Eterno, Ordem de Melquisedeque. 1998. Disponível: encurtador.com.br/qwQ49. Acesso em: 11 mai. 2020.

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