Assim como outras civilizações, Israel também
tinha a sabedoria como um conhecimento prático da vida, significando também,
experiência, competência técnica, independente da área de atuação profissional.
Deduz-se que esse nível de conhecimento ou sabedoria foi muito comum na época,
principalmente pelo fato de não se ter muitas escritas ou até mesmo a
dificuldade de leitura dos povos primitivos, daí o conhecimento popular passado
de forma oral pelos antepassados fazerem
muito sucesso.
Usando
de muitos provérbios e ditos populares, as informações, conhecimentos e
experiências eram passados de geração em geração. E pode até parecer coisa
simples falar um provérbio, um dito popular, mais na verdade por trás de cada
história contada existia uma informação intelectual bem complicada e cheia de
sentido. É como uma forma bruta de aprendizado que vai sendo refinado a medida
que vai se constatando a sua realidade no dia a dia, e apesar de ser uma forma
primitiva de conhecimento, nas mãos de pessoas certas e nos ouvidos de quem os
necessita ouvir, poderá se transformar em uma jóia rara.
Mas
do que o ensino, os provérbios visam uma espécie de arte de viver ou técnica da
vida. Onde no geral, há duas formas de
se perceber as verdades da vida: uma é pelo conhecimento sistemático ou teológico, a outra é pelo
conhecimento empírico, onde uma necessita da outra para sobreviver, pois onde
faltar esses dois tipos de conhecimento o homem estará fadado a ser vítima de
doutrinamento ou fanatização. Basicamente a sabedoria examina o mundo dos
fenômenos, como que apalpando a procura de ordem, ao mesmo tempo que permite
que as experiências mantenham as suas superficialidades, deixando o mais
acessível a população em geral.
Por
conta desse antagonismo de profundidade e superficialidade o mundo das
experiências é sempre passível de correção e de ser ampliado. O mundo
científico ou filosófico podem até ser pensado como completo, mas a sabedoria permanece sempre aberta e
inacabada. Ela sempre se aproxima da verdade de uma forma diferente, por isso a
forma de corrigi-la também é de forma diferente, ela nunca é um verdade
exclusiva, portanto, a correção de um fato aprendido ou explicado ao longo dos
anos, não necessariamente significa que tudo no passado estava errado, mas que
a partir de um novo ponto de vista, dentro de uma outra realidade esse
aprendizado ou conhecimento adquiriu um novo sentido, paralelo ao que sempre
existiu.
A
sabedoria também pode ser lúdica ou enigmática, cultura esta muito utilizada no
antigo oriente. É um tipo de sabedoria que o pensamento deve se antecipar para
tentar decifrar qual o sentido do que foi dito. É nisso que consiste a
sabedoria: essa vontade que se esforça em esclarecer racionalmente e ordenar o
mundo em que os ser humano se encontra, a vontade de reconhecer e registrar as
ordens nas ocorrências da vida, bem como
nos fenômenos da natureza. Embora, para Israel o conceito de natureza é muito
diferente dos nossos ou dos gregos, para eles era muito mais um conhecimento do
que um estado de existência.
De
qualquer forma, os antigos consideravam sabedoria orientar-se pelas leis da
natureza. E para Israel a sabedoria tinha um sentido humano geral, compreendia
toda a vida e tinha aplicação em todas as áreas da vida. Ou seja, entendiam que
no fundo das coisas há uma ordem que as rege
e que age de forma silenciosa e muitas vezes imperceptível em direção a
um ajuste de equilíbrio. Ser sábio não é julgar-se sábio, julgar-se sábio é
característica de tolo, pois é estupidez ignorar as ordens subjacentes á
realidade ás quais o sábio se submete.
Ao
longo dos anos na era primitiva, a sabedoria era uma questão do estado, e tinha
um valor cultural muito alto, cujo a mesma, era considerada um bem, e
tratava-se de assunto internacional e inter-religioso, e tinha um lugar próprio
para ser desenvolvida, na corte. E quem tinha o direito de cultivar e fomentar
a sabedoria eram os reis. No entanto, dependendo da região, o modo de lidar e
aplicar a sabedoria assumia novos papeis, pois, enquanto no Egito a sabedoria
servia para exortação, ensinamento de funcionários e filhos, em Israel não se
cogita essas possibilidades, pois é levado mais para um aspecto humano geral,
utilizando os provérbios em sua forma primitiva de ser.
Os
ditos populares de sabedoria são tão fortes e arraigados no seio da sociedade
que é fácil perceber que o livro de provérbio não passa de um grande apanhado
desses ditos que representa na verdade o aspecto humano e social da época. E
eram esses conhecimentos que faziam parte dos jovens da época, tendo como o
maior exemplo o jovem Davi que além de ter tido contato com esses ensinamentos
de sabedoria, também deve ter tido outros treinamentos específicos como
manejamento de armas, de tocar instrumentos entre outros, tendo em vista que o
mesmo chegou até tocar e aconselhar o rei da época. Como se poder ver, a
sabedoria nos tempos antigos tinha a ver com a consolidação de classes, com
todos os seus problemas característicos, como a conservação da propriedade, da
honra e do status social.
A
verdadeira humanização do ser humano, começa até mesmo em saber como comer, e
isso também era ensinado através da sabedoria com os devidos limites impostos
pelo próprio Deus. Mais muito além disso, a sabedoria também ajudava o jovem a
lidar com suas economias, suas forças e potencialidades, conservando assim a qualidade do ser humano. Como se poder
constatar, a sabedoria primitiva tinha influência na natureza, na vida pública,
política e na área de educação. Mas será que essa influência
também chegou na teologia?
A
sabedoria se cruza com a teologia exatamente no momento em que ela considera
que o ser humano justo, é aquele que dá
conta da sua vida de maneira correta, que se insere na sua comunidade fazendo o
bem, respeitando os direitos dos outros e, naturalmente, as exigências de Deus.
Pois assim como o livro de provérbio é um apanhado de contos populares, também
exalta a justiça de Deus como força construtiva e garantia de vida. Para
Israel, mesmo as sentenças da sabedoria popular inteiramente profanas, tem um
fundo teológico. No entanto, as declarações que são nitidamente teológicas, são
aquelas que apresentam qualquer
indicação sobre Javé ou sobre a relação com ele, sobre o que lhe agrada ou o
que lhe desagrada. Por isso, as máximas sempre trazem bons ensinamentos aos
homem, mas ao mesmo tempo delimitam os seus limites, colocando Deus, sempre
como um ser supremo e determinador de todas as coisas.
Por Joel S. Barros
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