quarta-feira, 27 de julho de 2016

SABEDORIA EXPERIMENTAL DE ISRAEL



Assim como outras civilizações, Israel também tinha a sabedoria como um conhecimento prático da vida, significando também, experiência, competência técnica, independente da área de atuação profissional. Deduz-se que esse nível de conhecimento ou sabedoria foi muito comum na época, principalmente pelo fato de não se ter muitas escritas ou até mesmo a dificuldade de leitura dos povos primitivos, daí o conhecimento popular passado de forma oral pelos antepassados  fazerem muito sucesso.
            Usando de muitos provérbios e ditos populares, as informações, conhecimentos e experiências eram passados de geração em geração. E pode até parecer coisa simples falar um provérbio, um dito popular, mais na verdade por trás de cada história contada existia uma informação intelectual bem complicada e cheia de sentido. É como uma forma bruta de aprendizado que vai sendo refinado a medida que vai se constatando a sua realidade no dia a dia, e apesar de ser uma forma primitiva de conhecimento, nas mãos de pessoas certas e nos ouvidos de quem os necessita ouvir, poderá se transformar em uma jóia rara.
            Mas do que o ensino, os provérbios visam uma espécie de arte de viver ou técnica da vida. Onde no geral,  há duas formas de se perceber as verdades da vida: uma é pelo conhecimento  sistemático ou teológico, a outra é pelo conhecimento empírico, onde uma necessita da outra para sobreviver, pois onde faltar esses dois tipos de conhecimento o homem estará fadado a ser vítima de doutrinamento ou fanatização. Basicamente a sabedoria examina o mundo dos fenômenos, como que apalpando a procura de ordem, ao mesmo tempo que permite que as experiências mantenham as suas superficialidades, deixando o mais acessível a população em geral.
            Por conta desse antagonismo de profundidade e superficialidade o mundo das experiências é sempre passível de correção e de ser ampliado. O mundo científico ou filosófico podem até ser pensado como completo, mas a  sabedoria permanece sempre aberta e inacabada. Ela sempre se aproxima da verdade de uma forma diferente, por isso a forma de corrigi-la também é de forma diferente, ela nunca é um verdade exclusiva, portanto, a correção de um fato aprendido ou explicado ao longo dos anos, não necessariamente significa que tudo no passado estava errado, mas que a partir de um novo ponto de vista, dentro de uma outra realidade esse aprendizado ou conhecimento adquiriu um novo sentido, paralelo ao que sempre existiu.
            A sabedoria também pode ser lúdica ou enigmática, cultura esta muito utilizada no antigo oriente. É um tipo de sabedoria que o pensamento deve se antecipar para tentar decifrar qual o sentido do que foi dito. É nisso que consiste a sabedoria: essa vontade que se esforça em esclarecer racionalmente e ordenar o mundo em que os ser humano se encontra, a vontade de reconhecer e registrar as ordens  nas ocorrências da vida, bem como nos fenômenos da natureza. Embora, para Israel o conceito de natureza é muito diferente dos nossos ou dos gregos, para eles era muito mais um conhecimento do que um estado de existência.
            De qualquer forma, os antigos consideravam sabedoria orientar-se pelas leis da natureza. E para Israel a sabedoria tinha um sentido humano geral, compreendia toda a vida e tinha aplicação em todas as áreas da vida. Ou seja, entendiam que no fundo das coisas há uma ordem que as rege  e que age de forma silenciosa e muitas vezes imperceptível em direção a um ajuste de equilíbrio. Ser sábio não é julgar-se sábio, julgar-se sábio é característica de tolo, pois é estupidez ignorar as ordens subjacentes á realidade ás quais o sábio se submete.
            Ao longo dos anos na era primitiva, a sabedoria era uma questão do estado, e tinha um valor cultural muito alto, cujo a mesma, era considerada um bem, e tratava-se de assunto internacional e inter-religioso, e tinha um lugar próprio para ser desenvolvida, na corte. E quem tinha o direito de cultivar e fomentar a sabedoria eram os reis. No entanto, dependendo da região, o modo de lidar e aplicar a sabedoria assumia novos papeis, pois, enquanto no Egito a sabedoria servia para exortação, ensinamento de funcionários e filhos, em Israel não se cogita essas possibilidades, pois é levado mais para um aspecto humano geral, utilizando os provérbios em sua forma primitiva de ser.
            Os ditos populares de sabedoria são tão fortes e arraigados no seio da sociedade que é fácil perceber que o livro de provérbio não passa de um grande apanhado desses ditos que representa na verdade o aspecto humano e social da época. E eram esses conhecimentos que faziam parte dos jovens da época, tendo como o maior exemplo o jovem Davi que além de ter tido contato com esses ensinamentos de sabedoria, também deve ter tido outros treinamentos específicos como manejamento de armas, de tocar instrumentos entre outros, tendo em vista que o mesmo chegou até tocar e aconselhar o rei da época. Como se poder ver, a sabedoria nos tempos antigos tinha a ver com a consolidação de classes, com todos os seus problemas característicos, como a conservação da propriedade, da honra e do status social.
            A verdadeira humanização do ser humano, começa até mesmo em saber como comer, e isso também era ensinado através da sabedoria com os devidos limites impostos pelo próprio Deus. Mais muito além disso, a sabedoria também ajudava o jovem a lidar com suas economias, suas forças e potencialidades, conservando assim a   qualidade do ser humano. Como se poder constatar, a sabedoria primitiva tinha influência na natureza, na vida pública, política e na área de educação. Mas será que essa  influência  também chegou na teologia?
            A sabedoria se cruza com a teologia exatamente no momento em que ela considera que o ser humano justo, é  aquele que dá conta da sua vida de maneira correta, que se insere na sua comunidade fazendo o bem, respeitando os direitos dos outros e, naturalmente, as exigências de Deus. Pois assim como o livro de provérbio é um apanhado de contos populares, também exalta a justiça de Deus como força construtiva e garantia de vida. Para Israel, mesmo as sentenças da sabedoria popular inteiramente profanas, tem um fundo teológico. No entanto, as declarações que são nitidamente teológicas, são aquelas que apresentam  qualquer indicação sobre Javé ou sobre a relação com ele, sobre o que lhe agrada ou o que lhe desagrada. Por isso, as máximas sempre trazem bons ensinamentos aos homem, mas ao mesmo tempo delimitam os seus limites, colocando Deus, sempre como um ser supremo e determinador de todas as coisas.

Por Joel S. Barros

Nenhum comentário:

Postar um comentário